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Brincando com fogo embaixo d'ágüa

Gostaria de poder começar esta coluna comentando o que de melhor ocorreu no GP Brasil de F-1, mas, além da frustração compartilhada com, acredito, a quase totalidade da Nação, os fatos negativos, relativos à segurança dos participantes, "ofuscaram" os momentos de brilho. Principalmente, em virtude sua reincidência!

Não me lembro exatamente se há dois ou três anos ou, ainda, se foi, também, no ano passado que uma placa de um dos patrocinadores do evento desabou na reta dos boxes sendo colhida por um dos carros de F-1 que passou pelo local sem que qualquer sinalização tivesse sido feita ao piloto. Por sorte, "Deus é brasileiro" e só um prejuízo material foi o "saldo" do acontecido. Ano passado, o motorista de um dos carros da organização, responsável por dar "segurança" aos pilotos, ao prestar um atendimento a Enrique Bernoldi, se não estou enganado durante o "warm-up", provocou um "momento de terror" ao abrir a porta do carro sem verificar se vinha alguém. Vinha! Por sorte, mais uma vez, o piloto não sofreu nada de mais grave, mas a cena remeteu os mais vividos ao acidente que matou Peter Revson, nos anos 70, também na F-1. Naquela ocasião, um fiscal atravessou a pista para tentar apagar um princípio de incêndio num carro parado do outro lado. Sem ver a aproximação de Revson "empilhando as marchas" e carregando um extintor de incêndio, o bem intencionado fiscal foi colhido e o extintor destruiu a cabeça do piloto que morreu de pé embaixo, ou seja, quando viu o fiscal nem deu para levantar o pé. Graças ao "nosso compatriota lá de cima", à "relação" Dêle com o piloto do carro de socorro e àquela elevação lateral dos cockpits atuais a coisa, por aqui, ficou só no prejuízo material mais uma vez. Neste final de semana, a coisa foi abusiva! Até o "anjo da guarda" precisa de um break e não dá pra ficar dando margem ao pior a toda hora. "Deu-lhe uma, deu-lhe duas..." deu-lhe um monte na Curva do Sol- parece ironia- e os responsáveis da direção atuaram como se estivessem proporcionando um belo espetáculo ao pessoal que compra os ingressos mais baratos, que ficou debaixo daquele aguaceiro, com a visão mais privilegiada dos sucessivos "porrões". Desculpem o termo, mas tentar usar qualquer outro é mascarar a gravidade potencial dos fatos. A do Schumacher então me arrepiou quando comecei a ver a grua na área de escape, para o lado interno da pista ao invés de estar por trás da barreira de pneus, e, um fiscal de costas para o "carroplanante" vindo na direção dele. O Button, por sua vez, mandou uma daquelas onde "fica pior a emenda que o soneto". Foi tentar corrigir e ficou reto. Pancada a 90 graus é algo terrível e cuja tentativa de evitar é um dos ensinamentos básicos de segurança. Pensei que ele ia "engolir as pernas" ou ficar com "pescoço de girafa"! Santo "crash test"! Não culpo o piloto, quero é ir caracterizando a gravidade potencial das situações que foram se sucedendo com a permissividade do Diretor de Prova e com a inabilidade da equipe de socorro, sinalização e segurança. O Montoya, por Deus, estava dentro do carro quando a Williams foi atingida por mais um "perdido no espaço". Aliás, o Diretor de Prova, que reputo muito competente em seu histórico, deu uma de Doctor Smith, do seriado - Perdidos no Espaço - da época da TV - em preto e branco, provocando ou ficando inerte diante das situações que se sucediam...Calma pessoal! Reservo-me o direito de dizer que só vi o seriado em "reprise" mais recentemente!!

Por fim, o Webber "tomou um perdido" senão no mesmo lugar onde o Zonta sofreu um acidente no qual quebrou o pé, correndo pela BAR, alguns metros antes. O pessoal da sinalização titubeou e lá veio o Alonso... A sinalização, dado ao estrago provocado por Webber, tinha que ter começado na Junção. Duas bandeiras amarelas paradas! Mas, pela disposição com que o espanhol vinha "empilhando marchas", deduzo que a pré-sinalização não ocorreu. Mas, o espanhol pode ter "colhido o que plantou". Será que ele é cego? Não acredito! Estou mais para a primeira hipótese. Aí, como se diz em Auditoria : "Merdou"! A bandeira vermelha já se justificaria só pelo que ficou na pista da "panca" do Webber. Não adianta o argumento de que tudo aconteceu muito rápido. Afinal, F-1 é rápido, é feito para ser rápido mesmo naquelas condições.O tempo até a chegada do socorro para o Alonso foi o ponto final de um dos mais "arriscados e inseguros dos últimos tempos".
Aliás, toda vez que começa a "melar" em Interlagos ambos os lugares, curvas "do Sol" e "do Café", tornam-se críticos. Além deles, o início da subida para o "laranjinha", a saída da curva do Mergulho e a saída da segunda perna do Lago. Ponto comum entre eles, exceto o "café", o declive faz com que os detritos fiquem depositados ali, misturados à água e à borracha. Todos os ingredientes para qualquer um que já tenha pilotado na chuva no circuito saiba que "tem que ficar esperto". Quem já participou de uma "Mil Milhas" então, sabe de cor e salteado, inclusive, que chove muito nesta época. È só primeira semana de Abril, e, portanto, vale o "Tom": são as águas de Março fechando o verão...Admira-me que o experiente e competente Diretor de Prova "tenha tomado tanta bola pelo meio das canetas...". O meu sentimento mais sincero é de que o "pessoal está acomodado", naquela de "jamais tivemos um acidente grave aqui", etc...Mas, cuidado, estamos abusando da sorte e a "operação de segurança na pista" precisa ser corrigida imediatamente. As críticas nos sites internacionais foram uma constante e a maioria deles com a foto da grua perto do carro do alemão, "dentro" da área de escape...Assim não! Não dá nem para "inventar" contra-argumento. Foi um dia péssimo e precisa ser "estudado" para que não se repita!

Falando dos demais fatos do GP
· Que "corridaço" do Barrichello! O acerto definido nos treinos e sua performance foram excepcionais! A tática, de esperar o momento mais adequado para explorar o acerto do carro, foi perfeita! Mas, como diz Silvo Luiz: "pelas barbas do profeta" será que na Ferrari ninguém ouviu falar do "plano B"? Tanta parafernália e "experts" de salários altíssimos para cometerem uma falha tão grotesca! Tão trivial! Será que eles vão ter que contratar um "Sherlock" para lidar com algo tão "elementar meu caro Watson"! Sou um admirador do Jean Todt que, para mim, está para Ferrari como Napoleão para a terra natal dele, mas, nesta, (desculpem o trocadilho infame) teve seu dia de "waterloose", "waterlost" ou se preferirem "waterlagos". Qualquer comandante menos brilhante teria adotado uma tática conservadora e antecipado a entrada de Barrichello nos boxes. Na pior das hipóteses, enchendo o tanque "até a boca'. Numa hipótese intermediária, calculando o reabastecimento para completar "duas horas de prova". A "parafernália telemétrica" falhou...Será que jamais ocorreu? Claro que sim! De fato, fica a impressão de que eles também estão sendo traídos pela soberba. Aquele tipo de atitude de quem acha que as coisas ruins só acontecem aos outros e que eles estão acima das hipóteses que afligem aos demais "mortais". Já não é a primeira nem a segunda que Barrichello "leva uma de quem deveria protege-lo". Foi daquelas: "quem tem um amigo como esse não precisa de inimigo"! Está faltando "olho de tigre" ao pessoal dos boxes! Mas, pasmem, tal tipo de "patacada" não é de todo incomum ao circo...Aliás, em circo há mágico, equilibrista, moça bonita,"patetas" e palhaço também!! Lembro-me do ano em que Senna vinha liderando com folga o GP Brasil e "encheu" a lateral do Satoru Nakajima, no Bico de Pato. Senna veio para os boxes trocar o bico e voltou para a pista "alucinado"...Só que o carro "não ia mais". Eu, privilegiado na época, estava assistindo ao GP, com uma credencial que dava acesso aos boxes numa época onde ainda se via alguma coisa interessante dos carros, sem tanto "esconce-esconde" que se fica sem ter o que ver..Mas, continuando, um conhecido meu era justamente o "fiscal" que ficava de olho no boxe da McLaren. Ao final da prova, aproximei-me dele e ele, que entende bastante, confidenciou que tinha "rolado" no boxe da McLaren "um clima", inclusive, com o comentário de que a equipe não tinha ajustado o bico para a prova, tendo-o mantido com a regulagem para o treino...Sem mais comentários! Esta é a parte do pateta! A do palhaço, fica por conta do filho de um piloto falecido e que foi ídolo de toda uma geração!
Quanto ao mágico, neste final de semana, o papel foi de Barrichello! Impecável! Até sua forma de colocar as coisas para a mídia, após a prova, foi perfeita! Parabéns!

· Que final de semana do Webber! No ano passado eu já tinha declarado que o cara é do ramo! Fico feliz de ver que não estou errado! Pena que o Pizzonia esteja lá e tomando um "charuto" do cara, depois de tantas horas de vôo em testes. No treino de classificação, "Nossa mãe", se não é um autódromo inteiro "secando o cara" e a pole tinha ido embora...O cara andou muito e foi a primeira vez que o vi envolvido num acidente, em prova e por erro dele, que poderia ter sido mais sério. Foi traído por jamais ter andado aqui e não ter sido avisado do perigo que é aquele local quando se coloca a roda externa no "meleiro". Quando vai, vai de vez. Mas, valeu! Mostrou que é dos bons mesmo!
· Raikkonen, por sua vez, mostrou que, além de guiar muito, parece ter "sugado"a sorte que costumava acompanhar Schumacher. Não merecia vencer a prova. Mas, como nem sempre vence o melhor, acumulou pontos importantíssimos. Líder, com duas vitórias em 3 provas...Vai ser complicado! O segundo colocado no campeonato é justamente seu companheiro de equipe e, por sua vez, Ron Dennis não é de interferir, deixando os "caras" se matarem...Salvaram sua atuação ter sido mais rápido e equilibrado que Coulthard e ter dado uma passada "por fora" em Ralf, na entrada do Lago, no molhado! Como tem muita gente disputando um ponto pra lá outro pra cá dentre os 5 primeiros...Pode ser beneficiado no final, justamente pela diferença que está obtendo logo de início!
· Mais uma vez a dupla da Williams "pisou no tomate". Montoya, apesar da idolatria de alguns, acerta menos do que Mansell...Este sim, no dia que acertava dava até com a cabeça na ponte depois de ter vencido a prova, fazia provas inesquecíveis. O colombiano tem feito uma sucessão de provas para se esquecer! Tomou o troco do alemão! Por fora! Pode ser que eu erre, mas arrisco mais uma "previsão" (modéstia à parte, até que tenho acertado bastante!): SE for bem na F-3, Nelsinho Piquet pode ficar no lugar de Ralf, em dois anos; SE for muito bem, no de Montoya já no próximo ano. Frank Williams deve estar sendo informado da performance do "filho do amigo e admirável ex-funcionário" e, mais ainda, já deve estar cheio das performances dos dois atuais pilotos que não demonstram o comprometimento necessário para, qualquer um deles, sagrarem-se campeões na categoria. O único impedimento, além das condições colocadas acima, pode ser a BMW, através de Bergher, que andou sendo "trairado" por Nelson pai e não deve se esquecer disso na hora de opinar. Mas, nada que um jantar, na hora certa, com a devida dose de vinho não possa aplacar e deixar que a coisa seja julgada só pelos fatores pertinentes...
· O espanhol Alonso, que foi tão criticado por alguns, há pouco tempo atrás, parece ter dado a volta por cima definitivamente. Até seus ex-críticos agora o elogiam abertamente. O cara é do ramo e está mandando muito bem. Quanto à "panca", socorro-me das palavras que me foram dirigidas pelo consagrado Paulão Gomes uma vez, quando eu tinha dado uma "panca" na prova de rallye de velocidade: "Só bate quem anda forte"! Além disso, a sinalização falhou quer por parte dos "fiscais de pista" quer pela demora da decisão do Diretor de Prova em determinar a interrupção da prova. A Renault mostrou que está mesmo na briga por um lugar entre as 3 melhores equipes do campeonato! Colocou seus carros entre os que marcam pontos em todas as provas e vai acumulando lugares no pódio, mesmo que a gente não veja o piloto lá...
· "Caiu no colo" em boa hora o segundo lugar da Jordan. Por pouco o "tio" Eddie não consegue uma vitória para tirar as finanças do time da..."lama". Mas, o resultado deste final de semana deve ajudar um bocado para tentar "arrumar a casa".
· A previsão acertada quanto aos Michelin, mesmo para mim, diante das circunstâncias, não valeu, ok?

Frustração, parte 2
Antes mesmo de começar a F-1 eu já estava frustrado. O tombo de Alex Barros no "warm-up", em Suzuka, além de ter comprometido a sua prova pode comprometer a luta pelo título. A lesão no joelho esquerdo não foi pequena e não há como pilotar bem com ela.Aliás, não havia! Pois, Barros, palavras dos sites especializados, fez uma "corrida exemplar", conquistando a oitava colocação "com uma perna só". Valeu! Tomara que ele se recupere plenamente a tempo de dar mais trabalho a Valentino Rossi. Este, por sua vez, deu um show, deixando claro que a pressão de Barros, no final do ano passado, fez com que ele "trabalhasse ainda mais". Está com um domínio impressionante da máquina. Vai ser difícil bater o italiano. Mas, atenção, as Ducatti "barbarizaram" na primeira prova do Mundial e estarão na luta por lugares no pódio.
Infelizmente, não foi só Alexandre que "tombou". Marco Melandri se arrebentou. Fratura exposta de fêmur e muito tempo de recuperação forçada pela frente.
Para terminar, Daijiro Kato, deu uma "panca" impressionante a 210km/h. Está lutando para sobreviver no hospital...
Que fim de semana confuso e desagradável!

- Nota: não costumo ficar fazendo "pesquisa" para ser de todo preciso quanto aos detalhes, preferindo remeter os leitores à essência dos fatos, daí que hoje, particularmente, não posso atestar, com a precisão cirúrgica desejada por alguns, todos os locais, datas e seus personagens. Na realidade, meu banco de dados é minha memória dos fatos. Jamais possuí um daqueles manuais de dados estatísticos que era distribuído pela Marlboro...Até que seria legal se eu tivesse tempo para dar uma olhada lá de vez em quando. Mas, quando tinha tempo, não tinha o manual. Hoje, não tenho tempo para tal tipo de manual. Peço desculpas aos leitores mais carentes de minúcias por não atende-los melhor.



As opiniões desta coluna são de responsabilidade exclusiva do autor Cacá Rabello


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Cacá Rabello é piloto profissional
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