Nesta
noite, escrevendo esta coluna, sinto-me envolvido por um clima
de felicidade, ainda maior, por fazer parte deste apaixonante
esporte a motor. Os motivos são variados e nem por isso
deixam de compor um "mix" um tanto paradoxal. Vamos
lá:
1- A corrida de F-1, mais uma vez, foi chata. Uma esmagadora
e previsível superioridade da Ferrari permitiu-lhe desfilar
sem uma oposição significativa por uma dos mais
sagrados templos do automobilismo. Porém, era Monza,
onde carros de F-1 podem andar como verdadeiros F-1. Velocidades
incríveis nas retas, curvas rápidas, de média
e de baixa a exigir tudo da máquinas e pilotos. Assim
como Spa, Monza é especial...Muito especial. Uma volta
com as imagens das câmeras "on board" é
um prazer...se o piloto for dos "bons" é claro...Mas,
Monza, no carro de Barrichello, na liderança....Isto
é bom demais..
Ver Barrichello confirmar a maturidade alcançada e vencer
deixou-me muito feliz. A vaidade se faz presente, em pequena
monta, mas de forma quase inevitável. Algumas colunas
escritas, paradoxalmente, há algum tempo, mas que parece
ontem, afirmamos aqui que o melhor para Barrichello, após
os acontecimentos da Hungria, era Schumacher conquistar logo
o título e, assim, poder partir para vitórias
sem o "fator Schumi" dentro da equipe a impedi-lo.
Isto, vem se confirmando toda vez em que larga na frente do
alemão. Na prova de hoje, só falta do que dizer,
em meio a uma prova monótona, justifica a expectativa
de que alguma inversão de posição pudesse
ser ordenada. Hoje, os críticos de então reconhecem
a "correção" da "decisão
da Hungria" e os "benefícios" que Barrichello
está colhendo. Mas, acima de tudo, a multidão
delirante sob o pódio e em todo o Autódromo de
Monza me emocionou. Fiquei pensando se seria possível
a qualquer piloto, por mais vitorioso e indiferente que pudesse
tentar ser, esquecer algo como "tamanho delírio
a seus pés". Espetacular! A emoção
que envolveu a volta vitoriosa aos boxes e tudo o que se seguiu
me deixaram feliz de ver que este esporte ainda se preocupa
com os "mortais" que lhe conferem tamanha importância.
2-
Quase ao mesmo tempo, trocando de canal, pude assistir a um
programa sobre os rallyes de velocidade. Fiquei muito feliz
de ver o quanto melhorou a edição de imagens;
que os comentários do Guilherme Spinelli - educado, centrado
e competente dentro do carro "Guiga" é um digno
representante da modalidade e do automobilismo, o que confere
Sabedoria ao programa -, defendemos tal idéia antes mesmo
do programa ir ao ar e, ao que tudo indica, acertamos mais uma
vez. Há maior preocupação com a escolha
dos locais de onde são feitas as "tomadas",
maior fluidez ( não é só aquela passada
pela frente da câmera; os cinegrafistas conseguem acompanhar
os carros por mais tempo) e esmero. Estes cuidados, não
por acaso, acabam por compor um quadro positivo para todos...No
caso deste esporte "radical", os acidentes são
fortes, pois, não há áreas de escape como
em autódromos. A pista é "natural"...É
o que é!...Carros das categorias menores a 150 e os das
maiores a 200km/h em estradas de terra, trechos "cegos"
e "interação e participação"
contínua do público.. O público desta modalidade:
na maioria dos países europeus atrai mais público
que a F-1, raramente menos; no Brasil, vem crescendo. Não
estou me referindo a retorno de mídia impressa ou eletrônica.
Que cresçam ainda mais! Pois, os rallyes de velocidade
têm um público apaixonado. Para dar um exemplo,
àqueles que desconhecem: há um grupo de pessoas
de Erechim que fretam ônibus e acompanham as provas em
quase todo o país. Isso, para não falar da já
tradicional "caravana de amarelinhos" na prova do
campeonato mundial disputada na Argentina. Receberam o privilégio
e responsabilidade de sediar a etapa do Sul-americano disputada
no Brasil. Além do excelente público "de
carteirinha" e de sua hospitalidade, a escolha de especiais
com excelente piso faz com que haja muita alegria daqueles que
disputam a prova lá, mesmo que não terminem a
prova. Erechim é especial também! No nosso caso,
acredito que : Erechim e Curitiba estão para os rallyes
de velocidade como Spa e Monza estão para a F-1. São
eventos para "quem sabe"; para "gente grande"
dentro e fora dos carros. Sensacionais!
Paradoxalmente, falta adotar a mesma qualidade de comentários
nas provas do campeonato mundial que são transmitidas
pela mesma emissora. Só quem conhece a fundo o que ocorre
dentro do carro, que tem "intimidade" com equipes,
pilotos e navegadores e com as diferenças de estilo de
pilotagem, pode transferir, com qualidade e coerência
técnica,ao público, as emoções que
o esporte proporciona de "dentro" do carro.
3-
À tarde, assisti às provas da F- Renault e Clio,
além da competitividade costumeira, desta vez pude testemunhar
que as provas foram "limpas". Tanto os "meninos
dos fórmulas" quanto os "jovens dos Clio"
se preocuparam mais em mostrar suas habilidades e menos suas
agressividades. Isto feito, deram um verdadeira show com um
bloco compacto com mais de 6 carros andando "colados"
do início ao fim das provas. Automobilismo é isso
aí. È guiar rápido, obter a posição
com categoria. Se não der para passar, não é
dando "panca" que se vai mostrar superioridade...Este
esporte é mais cerebral do que braçal! Parabéns!
Ao pessoal da CBA cabe o elogio de ter interferido em momentos
críticos recolocando as coisas no devido rumo!
4-
Nos Rallyes de Velocidade, as coisas parecem estar retornando
ao rumo...Porém, a questão da classificação
geral em detrimento da "por categoria" ainda precisa
ser melhor avaliada. Os rallyes têm nas distintas categorias,
reunidas em um mesmo evento, um dos aspectos mais importantes
para sua viabilização comercial, para a "renovação"
e "ascendência" nas categorias. Neste ano, como
conseqüência do sistema levado a efeito, as categorias
de menor potência ficaram "esvaziadas". Porém,
se implementadas as inovações previstas, mediante
o emprego de uma fórmula de "suporte" eficaz
para as categorias menores e a divulgação "por
categoria" ou se preferir, por "nicho" de mercado,
tudo poderá voltar a crescer rapidamente como havia ocorrido
nos últimos anos...
Mas, já é tempo de "definições"
sobre o que vai acontecer, quando, onde e como... Do contrário,
mais uma vez, o retardo em divulgar calendários, categorias
e regras contribuirá para que os "interessados"
não se mantenham no mesmo "timing" das empresas...Privilegiando
apenas aos "privilegiados"... Se nossa forma de "ver",
que tem se mostrado a mais acertada em diversas outras situações
e categorias, não for o suficiente, a análise
de entrevistas de pessoas como Alvin Toffler (aquele que escreveu
a "3ª Onda") pode ajudar a "apurar o feeling"
e "identificar e identificar-se com as tendências"
retificando, ao invés de ratificando, os equívocos.
5-
Uma pena que Hélio Castro Neves e Gil de Ferran não
tenham chegado ao título da IRL. Como foi o primeiro
ano da Penske e dos dois pilotos na categoria, podemos esperar
que ao lado de outros com Airton Daré, Felipe Giaffone
e Raul Boesel possamos ter muitas alegrias no próximo
ano...Mas, lá nas terras do Tio Sam ainda podemos torcer
pelo Cristiano da Matta na disputa pelo título da Cart..
Até a próxima!
As
opiniões desta coluna são de responsabilidade exclusiva
do autor
Cacá Rabello