GP
da Áustria: emoções do início ao fim...
Começando
assim até parece que foi uma corrida cheia de disputas.
Nada disso. Afora o acidente de Heidfeld e Sato foi mais uma
corrida daquelas que deixaram claro que a F-1 precisa encontrar
uma maneira de exibir algo a mais do que os atuais distantes
vinte carros passeando ao longo de um determinado número
de voltas por um circuito qualquer. Nem mesmo a mais do que
esperada confusão na primeira curva ocorreu.
Porém, ao longo do final de semana diversos fatos provocaram
emoções distintas.
O primeiro e, na minha opinião, mais importante foi o
de Rubens Barrichello deixar clara sua evolução
como piloto, desportista e profissional. O staff
de Barrichello está de parabéns. Obter a renovação
do contrato com a Ferrari por dois anos foi excepcional. Pois,
não vejo outra possibilidade dentre as equipes com vagas
potenciais que pudesse permitir tão bons resultados
a Barrichello em curto prazo. Mais, com um contrato de dois
anos será possível ampliar o leque de opções.
Por exemplo: a Toyota, 2004 para 2005, como uma equipe vencedora
precisando apenas de um piloto que reúna as condições
de lutar pelo título; Schumacher sair da Ferrari para
a Toyota ou para uma equipe Mercedes, resgatando sua dívida
para com os alemães (lembrando da jogada legal de Flávio
Briatore que frustrou as perspectivas da Mercedes de ter Michael
quando passou a ser fornecedora da McLaren) ou ainda se aposentar
e deixar a equipe técnica à disposição
de Barrichello na Ferrari; a VW entrar na F-1 com tudo e muito
mais que pode ocorrer neste período. Opções:
quanto mais melhor.
Reitero minha opinião de que Barrichello está
em grande fase técnica acrescentando que ele deixou claro
que está num estágio melhor do que eu podia deduzir,
até a prova passada, no que se refere ao preparo psicológico
e emocional. Na classificação, Barrichello foi
marcar sua melhor volta, após ter enfrentado um problema
com retardatário na primeira volta boa de sua última
tentativa, abrindo a volta com pneus sujos e depois de ter quebrado
o ritmo. A volta foi tão excepcional para o momento que
forçou Michael Schumacher a ir além do limite
e rodar.
Na prova, o desempenho técnico foi perfeito da largada
à bandeirada. Depois da prova as atitudes adotadas por
Barrichello e Schumacher carimbaram de vez a passagem de Barrichello
para uma nova e excelente fase de sua carreira.
Com um carro semelhante e evoluindo como está na pilotagem
e acerto do carro, Barrichello consolida sua única oportunidade
real para enfrentar o alemão, dentro do possível,
mantendo seu passe em alta e evoluindo cada vez mais no todo.
Apesar dos pesares esta é a melhor situação
que poderia esperar do atual momento da F-1.
Quanto à tão discutida decisão da equipe
de mandar inverter, mais uma vez, as posições
de chegada, há vários aspectos a considerar e
que me fazem concordar com quem tomou a decisão.
Vamos por partes:
-
Colocar
como atitude antidesportiva o que foi feito é desconsiderar
tudo o que já foi feito até hoje em todas
as categorias de automobilismo. Até mesmo Bergher
e Senna o fizeram por diversas vezes. Do Kart á F-1
isso sempre existiu e vai continuar a existir de forma mais
ou menos acintosa. Balela da FIA querer interferir. Quando
foi a McLaren a favor de Villeneuve, que nem era da equipe,
valeu...
- Falar
em bem do esporte é retórico e utópico
quando se considera o orçamento das equipes. No caso
da Ferrari, mais de 300 milhões de dólares ao
ano. O esporte, no caso da F-1, já deixou de existir
nesta acepção purista e romântica da palavra
há muito tempo. Nem mesmo os Jogos Olímpicos
podem mais ser considerados como evento esportivo de forma
tão romântica;
- Adjetivos
como nervos de aço e corações
de pedra, são tão comuns há alguns
anos na F-1 que já beiram o esquecimento. São
quase como pré-requisito entre os bem sucedidos da
categoria. Assim, não se pode esperar que o responsável
pelo gerenciamento de tais orçamentos ignore deliberadamente
aspectos estratégicos, táticos e técnicos
envolvidos em suas decisões em favor de algo emocional;
- Apesar
de toda a celeuma, em muito alimentada pela falta de outros
assuntos mais interessantes como disputas na prova, a decisão
técnica, naquilo que compete ao diretor técnico
da equipe na pista, só tinha dois aspectos a avaliar:
Caso Schumacher chegasse em segundo ampliaria sua liderança
em apenas 2 pontos e se chegasse em primeiro em 6 pontos;
- Não
havia nenhum impacto negativo da inversão sobre os
pontos no Campeonato Mundial de Construtores a serem computados
em favor da equipe. Mas, haveria no Mundial de Pilotos que
é o Campeonato de maior destaque;
Portanto, apesar da manifestação popular negativa,
tecnicamente a decisão foi correta para o momento.
Basta que Montoya vença duas provas e, principalmente,
que Michael não marque ponto em alguma delas para que
a pessoa que tomou tal decisão e hoje é chamada
de antidesportiva e etc. seja agraciada com adjetivos
tais como gênio, dotado de antevisão,
etc;
Quanto
mais cedo Schumacher chegar ao pentacampeonato, mais cedo a equipe
poderá desfrutar dos benefícios de marketing e financeiros
que isso proporciona. Até mesmo Barrichello pode se beneficiar
disto, ficando liberado para buscar seu vice-campeonato e vitórias,
independente, até, da posição do alemão
na pista.A forma como Barrichello cedeu a posição,
apesar de ter ficado claro que a ordem já havia sido dada
a 3 voltas do final, foi o maior complicador desta confusão
toda e duvido que ele o fizesse daquela maneira se o contrato
novo ainda não tivesse sido assinado. De qualquer forma,
na posição dele eu abriria meu olho, pois diz o
ditado que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco...
Os demais brasileiros tiveram uma prova infeliz e tiveram suas
participações encerradas muito cedo.
Outra emoção diferente lembra aquele ditado que
diz: Quem é vivo sempre aparece!. Quem resolveu
reaparecer foi Jacques Villeneuve. Após muito tempo sumido
andou rápido e figurou até entre os 10 primeiros...Mas,
tomou tempo de seu companheiro de equipe até este quebrar.
Esta é uma situação que ainda não
consegui entender muito bem: alguns comentaristas colocam Villeneuve
como o pivô de todas as negociações entre
equipes e pilotos, após a definição mais
que oportuna da Ferrari. Para mim, Villeneuve é um piloto
mediano que teve uma excelente oportunidade na melhor equipe de
então. Depois disso, nos últimos 4 anos, só
tem feito falar. Quando Zonta começou a enfiar tempo nele,
tirou os engenheiros de Zonta e quase terminou com a carreira
do brasileiro. Tem tentado, sem sucesso, fazer o mesmo com Panis.
Há pilotos mais habilidosos, determinados e técnicos
à disposição. Muitos deles falam menos e
ainda são mais jovens. A equipe BAR há muito tempo
não consegue um carro competitivo e, portanto não
há nada de bom que Villeneuve possa levar consigo para
outra equipe. Pilotos de teste de equipes como Ferrari, Williams
e até mesmo McLaren fariam melhor este papel de pivôs.
A decisão da Ferrari de renovar todo seu pessoal até
2004 me parece ser boa, também, para Felipe Massa que poderá
trabalhar mais sossegado com a Sauber amadurecendo e aprendendo
mais sobre acertos e forma de trabalhar antes de assumir responsabilidades
ainda maiores com times de ponta. No momento, tomou tempo, mais
uma vez, de Heidfeld e, portanto, não está pronto
para avançar ou subir com segurança.
Nos próximos quinze dias a mídia deverá se
ocupar de tentar pressionar a Ferrari e Schumacher, falar um monte
de besteiras para as quais os responsáveis técnicos
não estarão se importando de verdade. Depois de
Mônaco a tendência é que a coisa caia no esquecimento.
Como o futuro a Deus pertence não cabia no
momento da prova outra decisão senão de segurança,
pois até que se mude a Matemática, 6 será
sempre maior que dois.
F-3000
Tomas Enge e Wildheirm (êta nome complicado) finalmente
conseguiram
o resultado esperado desde o princípio da temporada.
Nas demais provas apesar de excelentes desempenhos em treinos
a vitória escapou ora por problemas mecânicos ora
por erros bobos dos pilotos.
Dentre os brasileiros, destaque para Mário Haberfeld
que fez excelente prova. No final defendeu com categoria sua
posição. Os demais brasileiros fizeram o possível
para os equipamentos que possuem. Sendo que mais uma vez os
fatos comprovam que não estava tão errado sobre
minha opinião a respeito de Pizzonia já manifestada
em outras colunas.
Sperafico perdeu a liderança do certame, porém,
caso sua equipe consiga evoluir um pouco, ainda é o nosso
representante com maiores chances. Haberfeld deu sinais de reação,
porém, o campeonato tem 12 etapas e deixar de marcar
pontos, como ocorreu em outras provas, tem um peso muito grande.
É esperar para ver o que acontece com enge e o alemão
de nome difícil. Pois, Enge é do tipo que não
administra resultados e já cometeu erros bobos este ano
por mais de uma vez. O alemão também é
inconstante. A maior chance dos brasileiros está em jogar
com o erro destes dois.
F-Clio
André Bragantini venceu com autoridade a prova disputada
em Brasília. È sem dúvida um dos melhores
pilotos brasileiros de Turismo, principalmente de carros de
porte médio. Os cariocas Nelson silva Jr., Elias Jr.
e Wilton Neto estrearam muito bem.
Infelizmente, continua a vigorar a filosofia, dentre muitos
pilotos de turismo no Brasil, a idéia de distribuir toques
independente do risco envolvido em determinadas situações.
Alguns são tão maldosos e perigosos que a punição
em tempo se mostra insuficiente para reprimir tais atitudes.
No miolo do circuito foi um festival de mudanças de trajetória
e espremidas. Em alguns casos atirando os carros
uns sobre os outros sem o menor cuidado. Concordo que em uma
categoria tão equilibrada não é fácil
passar, que, às vezes, é preciso apoiar
ou abrir caminho de forma mais agressiva senão
não passa. Porém, em tudo isso é preciso
demonstrar categoria e não apenas algo que beira a irresponsabilidade.
Outras categorias monomarcas perderam seu espaço em conseqüência
de tais exageros defendidos por alguns como espetáculo.
Os vencedores não precisaram chegar aos extremos vistos
no pelotão intermediário.
Algumas equipes já devem estar refazendo seus orçamentos
e incluindo diversos itens como pára-lamas, pára-choques
e até carrocerias inteiras para poderem disputar a tourada
de meio de pelotão. È preciso que os organizadores
disciplinem a disputa antes que algo de ruim aconteça
já na primeira temporada. O acidente espetacular com
Bruno Santos, que já terá que comprar um carro
todo novo para a próxima etapa, ocorreu num trecho de
média, em virtude de um toque entre dois outros carros
de forma estúpida.Se fosse em Tarumã, podia ter
ficado muito feia a coisa...
Os carros são muito bonitos, rápidos e a disputa
equilibrada. Aqueles que disputaram categorias com carros de
tração dianteira e semelhantes, tais como Corsas
e Gols, ainda levam alguma vantagem no acerto. Porém,
daqui a poucas provas a tendência será a de ter
ainda mais carros lutando pela vitória. Mas, reitero,
é preciso disciplinar a coisa antes da coisa descambar
para a mais pura pancadaria e transformar a prova numa questão
de sobrevivência e não de habilidade.
F-Renault
André Prioste venceu com facilidade. A estratégia
de passar todos os treinos acertando o carro para o ritmo de
corrida e não de classificação rendeu bons
frutos e a diferença final foi maior do que se podia
esperar para uma categoria monomarca.
Nelson Ângelo Piquet, filho do tricampeão de F1,
chegou em terceiro e deu continuidade ao trabalho de preparação
que vem sendo desenvolvido por seu pai. Fez a pole, mas durante
a prova foi perdendo rendimento em virtude de um acerto que
consumia pneus excessivamente. Independente do resultado, o
que mais me chama a atenção é a forma como
Piquet pai vem preparando seu filho. Semana retrasada venceram
juntos os 500 kms de Brasília de Endurance em um protótipo
com plataforma de F-3. O garoto disputa regularmente a temporada
de F3 Sul-americana, com perspectiva de disputar, pelo menos,
mais uma temporada antes de seguir para a Europa. Apesar de
discordar do jeito Piquet de ser reconheço
que este trabalho é o mais consistente que tenho visto
nos últimos tempos e que renderá não só
aos Piquet mas, também, ao Brasil grandes frutos no futuro.
Acredito que este piloto ao chegar a F-1 estará pronto
para se tornar um de nossos mais expressivos campeões.
Acerto de carro, ritmo de prova, e principalmente muita quilometragem
acumulada deverão permitir que Nelson Ângelo reedite
os feitos de seu pai. O garoto é ambicioso e já
disse que quer ser melhor que o pai. Sem dúvida conta
com um apoio que o pai não teve e tem muito mais recursos
à disposição. Ano passado, deu mais de
100 voltas de F-3, por dia, no Autódromo de Brasília.
O pai o apóia sim, mas cobra o trabalho a ser realizado
para que não se reedite a estória de piloto que
guia somente em cima do nome da família. Parabéns
ao tricampeão.
Belas disputas no pelotão intermediário facilitaram
a vida dos líderes que dispararam na frente. Porém,
apesar da proximidade dos carros, muito pouco se viu de apoios
e toques, apesar de alguns excessos na defesa de posição
típicos e compreensíveis entre garotos que recém
saíram dos karts. Há muitos talentos a serem desenvolvidos
na categoria que apresenta grids cheios, bom público,
altas médias horárias, carro bonitos, modernos
e muito rápidos. Um belo espetáculo.
Semana que vem tem Mundial de Rallyes na Argentina.
Até lá, se Deus quiser!
As
opiniões desta coluna são de responsabilidade exclusiva
do autor
Cacá Rabello
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